Texto Autoral - Sou Duas

A cada dia que passa me sinto duas. Sou a menina de quinze anos, que vai para escola e tem mil planos de futuro. Tão lindos, tão ingênuos. Noutro segundo sou a mulher de vinte tantos, o mundo nas costas, as certezas que escorrem pelos dedos. 
Sou a adolescente difícil e decidida, muitas razões na cabeça, não abre mão de nada. A jovem que já viveu a vida e agora entende que o mundo gira como ele mesmo quer e que é necessário ter jogo de cintura para acompanhar.
Tenho quinze anos, não sei dirigir, nem o que é o amor. Ao mesmo tempo, quase trinta, sou a força feminina, leio Simone de Beauvoir e discuto em bares política e mistérios da vida. 
Sou a menina que chora com a dor do próximo, autenticidade juvenil e pureza. Sou a mulher que estende a mão, feita de mistérios e transborda o oculto. 
Tenho de novo quinze anos, sinto a força da vitalidade e da juventude, quase infantil e sei que tenho o tempo a meu favor. Tenho quase trinta, já enfrentei o relógio que não para, aqueles que tentaram me jogar no chão e meus demônios, venci cada um deles.
Tenho quinze anos, cabelos castanhos e franja tocando violão, sou a mulher de vinte tantos, cabelos cor de fogo e olhos de determinação.