Resenha "As Esganadas" Editora Cia das Letras

Jô Soares para mim é uma figura icônica, ator de grande potência, apresentador fantástico e para conquistar totalmente meu coração, um escritor fora de série. Já li vários de seus livros e a comédia "As Esganadas" não poderia ficar de fora.
Quem nunca comenteu o pecado da gula que atire a primeira pedra. A narrativa se passa em 1938 , durante o Estado Novo, mistura personagens históricos com ficcionais, criados pelo autor, incluindo um serial killer, centro da história, que mata somente mulheres gordas.
Nós leitores nos sentimos de certa forma cúmplices do criminoso, pela forma que a história é contada; o assassino escolhe moças obesas da sociedade carioca para vítimas, figuras essas que lhe remetem a imagem de sua mãe portuguesa, acostumada a cozinhar e comer muito. A inspiração Hitchcockiana de Jô fica vem clara, um Norma Bates (Psicose) à brasileira.
Desde o princípio é deixado claro o assassino, e toda investida da polícia, atrapalhada, serve de comédia do enredo. O mistério mesmo é o que as gordas, vítimas do serial killer, iam fazer no Beco dos Barbeiros.
Irônico e voraz, o livro traz personagens bem estruturados e um humor ácido com timing perfeito. O grupo que tenta caçar o assassino formado por um delegado, irritadiço, um ex-policial português, um assistente apavorado e até uma jornalista de "O Cruzeiro", juntos dão o tom de comédia.
Como diz Luiz Fernando Veríssimo na contra-capa, terminamos o livro horrorizados e com fome.

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