Texto Autoral - Carnaval

Os exibicionistas que me perdoem mas em algumas situações a invisibilidade é fundamental. Gosto de observar as pessoas, é em especial um dos meus hobbys preferidos. No carnaval elas ficam ainda mais interessantes, mas claro de longe. 
À uma certa distância elas ficam brilhantes, dentro de suas fantasias divertidas e máscaras de felicidade, esbanjam alegria e exagero, mas de perto a festa carioca gira em torno de calor torrencial, banheiro químico sujos, ruas fétidas, bebida quente, isso na melhor das hipóteses. 
Me mudei e um bloquinho passa na minha nova rua, do meu andar vejo com perfeição a beleza que passeia quase em câmera lenta, os confetes e serpentinas voam em direção ao céu colorindo os foliões, vejo tudo da janela, com uma caipirinha gelada e a segurança que só nossa casa pode dar e o melhor vejo todos invisível da minha janela, alta torre de alumínio e vidros fumê que como se me blindassem do mal do mundo, vejo tudo. 
A música, trilha sonora repleta de marchinhas antigas, toca abafada para mim e faz os vidros trepidarem, vejo a felicidade nos rostos dos passantes que pulam e dançam animados e em sua maioria embriagados atrás do trio elétrico. As crianças correm e pulam em volta dos pais que provavelmente rezam a Deus para ter sobriedade de cuidar-lhes. Os velhinhos parados nas calçadas olham e acenam para todos com aquele brilho no olhar de quem sabe tudo que viveram e viram passar. A rainha de bateria, famosa, dança enquanto a multidão enlouquecida por seu afeto se estapeia por uma foto ao seu lado, eles tem sorte, a moça é gente fina e sucumbi a seus desejos a cada samba que toca. A alegria é bonita a distância, principalmente a alegria de carnaval, que no fundo, quem já viu de perto sabe que não é tão colorida assim.

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