DE CONTO EM CONTO - EDUCAÇÃO

Todos os dias ela fazia o mesmo caminho, saia de sua casa horas mais cedo, para que não chegasse atrasada para a aula de suas crianças, era assim que ela os chamava, suas crianças, porém esses já não eram crianças há muito tempo, tinham uma vida e caráter formado, por mais que este nem sempre fosse bom; mas no coração dela todos ainda tinham ao menos uma oportunidade. 
Cecília já fazia o mesmo caminho há muitos anos quando começou a dar aulas de Português no colégio dentro da favela, no início ainda era jovem e receou a oportunidade, entretanto por necessidade do trabalho aceitou a vaga e hoje trinta anos depois, não se arrepende, ela nunca pensou em desistir, pois aquela era a missão dela, ensinar a todos que quiserem aprender, e ensinava com muito amor e dedicação, ela tinha o dom de ler a alma de seus alunos, ela na verdade sempre quis poder ajudá-los a mudarem a própria sorte e o ensino e a educação eram os melhores meios que ela tinha para isso. 
Enquanto subia a ladeira, pensava em seus anos de ensino nesta escola; em como pôde ajudar tantos jovens, em como seu coração sofreu por perder vários deles, como muitas vezes se sentiu impotente sem poder fazer nada para abrir-lhes os olhos do caminho tortuoso que alguns haviam escolhido, em como viu brilhar e serem felizes tantos outros. Hoje já deveria estar aposentada, pensou, mas não o faria tão cedo, pois aquelas crianças precisavam dela, confiavam nela, sabiam que podiam contar com ela, como uma segunda mãe e confidente para seus sofrimentos ou pecados, Cecília sempre esteve ao lado deles, tentado mostrar-lhes que era aprendendo e se dedicando que eles mudariam suas vidas, vidas estas que nunca foram fáceis, tendo que lutar e se desviar do caminho errado, e nem sempre eles conseguiam. 
Quantas vezes ela ouviu de muitos que ela fazia um trabalho que na verdade de pouco adiantava, mas Cecília sabia do brilho nos olhos daquelas crianças ao verem um mundo novo se abrir. Buscava determinação de onde fosse e via o potencial onde ninguém mais acreditava. Eles queriam aprender e isso já era mais que o suficiente para ela ensinar a eles o quanto pudesse, e os que não queriam ela guiava, lado a lado. 
A já senhora professora de Português, entrava na sala de aula, na escola da favela, na qual trabalhou a sua vida toda, e com amor pelo ensino e pelos alunos começava mais uma aula que a princípio parecia uma aula qualquer, o que ninguém sabia era que ela tinha em seu coração o secreto desejo de mudar o mundo.

Juliana Meneses 

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