DE CONTO EM CONTO - SEGUES

Pelas vielas e calçadas do centro do Rio que Ana Lucia foi andando, andando e pensando depois de tudo que tinha lhe acontecido, sua vida sempre fora assim mesmo, um turbilhão de emoções e sentimentos, quando tudo parecia estar bem na mais perfeita paz e sintonia com o universo, Bum! Vinha como um raio em sua cabeça e virava toda sua vida pelos ares. Ela andava pelas ruazinhas pequenas e estreitas de pedra portuguesa, o salto de seu sapato por vezes prendia entre os estreitos buracos das pedras mau colocadas, ela bambeava, lutava contra o salto e continuava, chovia suavemente e suas lágrimas misturavam-se com as gotas que caiam do céu mas Ana parecia nem notar, nem a chuva nem as lágrimas.

Ao caminhar despertava a curiosidade dos passantes, seus belos olhos verdes e vermelhos agora tão borrados da maquiagem que outrora estivera impecável. Seu espírito agora tão magoado com as palavras duras e frias que teve que suportar calada, sozinha, sem saída, acuada como um cão vadio em um beco. E agora o que faria de sua existência? Não sabia, tinha medo do que lhe aconteceria e caminhava por aquelas ruas tão parecidas que para ela pareciam na verdade tão cinza era tudo cinza para ela agora, as ruas, as pessoas, a vida, só tristeza.

Caminhava, e seus pés doíam e ela agia como se não sentisse, pensava fervorosamente em tudo que vivera nestes últimos minutos e em seus devaneios achava que não conseguiria sair do precipício em que encontrava; quando deu por si viu que não sabia onde estava e estava sim presa como em um labirinto de curvas e retas cor de cinza, tão só, as lágrimas escorriam de forma descontrolada por sua delicada face assim como a chuva que agora caia fortemente. A escuridão tomava conta de tudo, as vielas agora já desertas parecias ameaçadoras e perigosas, o que fazer, correr lhe pareceu uma ótima saída e ela o fez, correu e não lembrou-se dos belos sapatos que estava, caiu e chorou mais do que antes; de dor, de medo, de desilusão.



E Ana Lucia ali ficou sentada, em uma ruazinha escura e sombria do centro do Rio de Janeiro, com a chuva caindo em seu corpo mesclando-se com suas lágrimas que eram acompanhadas de um pranto baixinho e delicado de moça que ri e sofre contida, pobre criatura, não tinha ideia que a vida lhe guardava sempre realizações de sonhos dourados e que o que passava hoje, nem lembraria em seus dias de primavera que estariam por vir. Pobre criança tola levanta a cabeça, enxuga teu belo rosto e segue em frente, segue que tu és forte e a vida não te quer dessa maneira, levanta-te e segue que teu destino não termina em uma viela suja e fétida, tu és muito mais que tudo isso, sofres agora mais não podes imaginar o que lhe espera, vai-te então doce criança segue, tirai-vos esses sapatos e segues tu veras que teu destino está traçado e o medo e a incerteza não terão lugar ao teu lado. Segue Ana Lucia, esquece-te de tudo que passaste a pouco, lembra apenas de quem tu realmente és, lembra de tu essência e assim poderás suportar tudo.

Juliana Meneses

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